A NEUROCIÊNCIA E O BEBÊ DE ZERO A TRÊS ANOS
Quando nasce um bebê, antes mesmo que a mãe o abrace, o olhe ou o toque, já se iniciou neste novo individuo um célere processo de desenvolvimento, principalmente em seu cérebro. Mas diferentemente da maioria dos seus órgãos, em que novas células se originam da divisão das já existentes, o cérebro cresce graças a modificações dos neurônios já existentes. Como resultado da nova experiência interativa do “organismo bebê” com o “objeto mãe”, iniciado antes do nascimento, os aproximadamente, 100 bilhões de neurônios que constituem a base genética do cérebro humano vão se modificar. Para cumprir sua função de se comunicar entre si, permitindo que a informação que vem da experiência viaje de uma parte do cérebro para outra, surgem redes neurais, que se constituirão na estrutura do que será o indivíduo como um todo (self). Esta microestrutura neural, base da macroestrutura do cérebro, gera funções que vão desde a capacidade de regulação homodinâmica, a auto-regulação afetiva, a função mental, enfim, com os sentimentos, a comunicação social até outras mais sofisticadas como a linguagem, o aprendizado, e a possibilidade de elaborar conceitos e buscar soluções.
Enquanto um pai tenta confortar um bebê que chora, ou uma mãe conversa com seu filho numa relação “olho-no-olho” ou enquanto o neto houve a história que a avó lê, numa questão de segundos, milhares de células do cérebro destas crianças proliferam, se desorganizam, são eliminadas, reorganizadas e organizadas pelo estímulo destas experiências particulares. Formam-se novas conexões, conferindo mais definição e complexidade ao intrincado circuito que poderá permanecer pelo resto da vida e se constituir naquilo que será o adulto. Mas, estes conhecimentos são recentes. Faz pouco, ficou sabendo que o bebê não é uma tabula rasa ou uma massa informe moldável segundo os desejos do adulto.
Até bem recentemente, não era acessível e generalizado o conhecimento da enorme atividade e complexidade do cérebro do bebê. Também não se sabia quão flexível o cérebro pode ser! De quinze anos para cá, os neonatologistas, agregando conhecimentos de outras disciplinas, principalmente da neurociência, puderam explicar cientificamente quem eram realmente os bebês sob seus cuidados. Na verdade, os neurocientistas se encarregaram de mostrar que a determinação genética que organiza o cérebro do bebê é importante até 21 semanas de gestação. A partir de então e principalmente com o nascimento (prematuro ou a termo), a epigenética ou seja a experiência vivenciada desde os primeiros momentos, pelos cuidados, têm um impacto tão grande na arquitetura do cérebro, a ponto de se estender às capacidades do futuro adulto. Os conhecimento trazidos recentemente pelas ciências do cérebro junto a experiência clínica como intensivista em UTIN (Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal) fez desenvolver a pretensão de acreditar, que cuidados adequados nos três primeiros anos poderiam fazer a profilaxia e proteger os bebês não nascidos, os recém-nascidos, suas mães e famílias das terríveis consequências que ensombrecem os relacionamentos atuais.
Comentários
Postar um comentário