Resposta do COREN sobre a polêmica da PERSONAGEM NORMA em "Insensato Coração"



03 Fevereiro 2011

Ilmos. Srs. Gilberto Braga/Ricardo Linhares/Denis Carvalho
DD. Autores e Diretor da Novela "Insensato Coração"
Considerando a apresentação dos capítulos iniciais da novela "Insensato Coração" e a atuação da dita "enfermeira", personagem chamada Norma, interpretada pela excelente atriz Glória Pires, passamos a tecer algumas considerações:

1 - As atividades domésticas desenvolvidas pela personagem Norma não são condizentes com as previstas para os ENFERMEIROS (profissional de nível superior com curso de graduação de pelo menos 4 anos), de acordo com a Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem;

2 – Na área de enfermagem três trabalhadores têm o seu exercício profissional previsto em Lei: o auxiliar de enfermagem (exigência de ensino fundamental completo + curso específico), o técnico de enfermagem (exigência de ensino médio completo + curso específico) e o enfermeiro (exigência de curso de graduação realizado de 4 a 5 anos– nível superior, podendo ainda cursar mestrado e doutorado na área ou em outras áreas do conhecimento);

3 – O exercício profissional do ENFERMEIRO no domicílio, em geral, é voltado para os pacientes de alto risco e dependência máxima do profissional, além do uso de tecnologia avançada.

Outrossim, nada impede que o Enfermeiro, o Técnico e o Auxiliar de enfermagem exerçam atividades junto a pessoas de menor risco de adoecimento. Contudo, suas ações são voltadas para a pessoa dependente de seus cuidados e não dos cuidados do domicílio, o que é uma deturpação da imagem da profissão;

4 – Em geral, o trabalho de CUIDADOR, acompanhante sem amparo legal para executar procedimentos exigidos por pessoas doentes, sua ação restringe-se à vigilância, à segurança, ao relacionamento amigável com a pessoa que é cuidada e com sua família. Tem importância na sociedade e, geralmente, presta assistência a idosos, mas não é enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem.

Entendemos que a sociedade, em geral, é mal informada sobre a profissão de enfermagem, o que a faz vulnerável no momento de exigir cuidados sem risco, pois, desavisada, usa pessoas até bem intencionadas, mas que não estão capacitadas para este ramo do trabalho.

O trabalhador de enfermagem que luta há anos por melhores condições de trabalho, por carga horária de 30 horas semanais e salário compatível com o alto grau de responsabilidade que lhe é exigido para ajudar a salvar vidas, sente-se lesado com a imagem deturpada de seu trabalho, que pode inclusive enfraquecer a sua luta.

Como a Rede Globo tem a maior penetração televisiva nos lares brasileiros, ficamos preocupados com o uso indevido do vocábulo Enfermeiro em uma novela de grande audiência. Uma produção que, além de distrair, também tem o caráter informativo e de educação da sociedade através dos vários temas/texto que ela produz.

Temos certeza que como conhecedores, agora, do que as imagens levadas ao ar podem induzir a sociedade a entendimentos equivocados, além de deixar os profissionais de enfermagem bastante constrangidos socialmente, deverão tomar providências cabíveis para a correção dos fatos relatados.

Sempre certos de que os pensadores da Rede Globo primam pela verdade e a informação correta para a população deste país, colocamo-nos à disposição para qualquer outro esclarecimento.

Atenciosamente,
Pedro de Jesus Silva - Presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro
 
 

 

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